Ibama mantém aumento da vazão do Xingu em fevereiro afetando a geração de Belo Monte.
No dia 29 de janeiro, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis manteve em 10.900 m³/s a vazão média de Belo Monte para o Trecho de Vazão Reduzida do rio Xingu. A determinação vale para o período de 1º a 7 do mês de fevereiro. A Norte Energia, responsável pela hidrelétrica, pretendia liberar 1.600 m³/s para o mês.
Segundo a CCEE, com a liberação da vazão máxima, deixarão de ser gerados 6.550 MW médios. O custo dessa energia não gerada, quando valorada ao PLD médio projetado para o período, chega aos R$ 162 milhões.
O descasamento se dá porque o Ibama alterou o hidrograma da usina com poucos dias de antecedência. A CCEE entende que alterações na operação só podem ser refletidas nos preços se forem informadas com 30 dias de antecedência, antes da próxima rodada do Programa Mensal da Operação (PMO). Isso significa que, para que a mudança na vazão da usina possa ter reflexos no PLD, o Ibama precisará informar o hidrograma de abril antes da reunião do PMO de março, que acontece no fim de fevereiro.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), por sua vez, implementa as mudanças no hidrograma na operação imediatamente, a fim de garantir seu funcionamento adequado. O descasamento entre o PLD e o Custo Marginal da Operação (CMO) acaba sendo custeado por meio de encargos.
“O regime da usina é muito baseado no primeiro semestre, então você poderá ter um efeito devastador para as finanças do setor”, disse Ruy Altieri presidente da CCEE. Segundo ele, com a mudança de vazão, apenas duas das 10 máquinas da casa de força principal de Belo Monte estarão operando nesta semana.
Para o restante do Mecanismo de Realocação de Energia (MRE), a frustração na geração da usina é grave, pois aumenta o GSF do período. Como o GSF da energia em regime de cotas e de Itaipu é repassado aos consumidores cativos, a mudança na vazão deve pressionar as tarifas. Além disso, como precisarão ser acionadas térmicas para substituir a energia não gerada, isso deve pressionar os encargos cobrados de todos os consumidores.
“Estamos muito preocupados, o setor todo está preocupado. Essa questão é gravíssima, temos que encontrar uma solução no curto prazo para não perder o período de maior geração da usina”, disse Altieri. Esse seria o primeiro período hidrológico com a usina totalmente motorizada com consumo regularizado, já que ano passado a carga foi afetada pela pandemia.
A Norte Energia, em ofício enviado ao Ibama, afirma que a hidrelétrica de Belo Monte corre risco de parada total com atendimento à vazão de 10.900m³/s, determinado pelo órgão para o período de 1º a 7 de fevereiro.
No documento datado da última sexta-feira, 29 de janeiro, o diretor-presidente da empresa, Paulo Roberto Pinto, fala em redução brusca na geração do sítio Pimental devido à diminuição da queda líquida na casa de força e descumprimento da outorga da Agência Nacional de Águas em relação aos patamares de elevação da vazão média diária.
O executivo também menciona impactos socioambientais, como a redução expressiva do nível de água no reservatório principal. Segundo a Norte Energia, isso pode levar à formação de poças, com aprisionamento de peixes nesses locais; provocar seca nos igapós, com prejuízos à piracema e impactos em áreas de alimentação da fauna aquática.
O órgão ambiental tem sofrido pressões dentro do próprio governo para rever a determinação, justificada em parecer técnico que aponta impactos ambientais da usina superiores aos previstos nos estudos do empreendimento.