Acabou o período úmido, e agora?

Para o cidadão comum, a pandemia pode ter trazido uma falsa impressão de que teríamos uma queda no consumo de bens e serviços, e consequente redução das cargas no sistema elétrico brasileiro.

De fato, isso aconteceu logo no início da pandemia, mas a partir do segundo semestre de 2020, houve um retorno a galope de vários setores da indústria, que apesar da redução de consumo de energia do setor do comercio, compensou esta queda, e o que estamos vendo agora é um consumo maior de energia, se comparado aos anos anteriores.

consumo de energia elétrica histórico 2019 a 2021

Esse ritmo de cargas do sistema e o deplecionamento dos reservatórios, principalmente no submercado Sudeste, considerado a “Caixa d´água”, tem causado preocupação nos agentes do setor elétrico.

Criticidade Hidrológica

Desde outubro do ano passado, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) determinou que operação de geração termelétrica despacho fora da ordem de Mérito (mais caras) com objetivo de reduzir a degradação dos armazenamentos dos reservatórios das usinas hidrelétricas.

“O cenário ainda merece atenção, fato evidenciado pela permanência de afluências abaixo da média histórica em todos os subsistemas, com exceção do Sul, configurada como a pior afluência no sistema interligado nacional (SIN) nos últimos 91 anos para o período de setembro a março”, apontou o CMSE em nota.

Com as previsões de níveis críticos de chuva para 2021, as ações que garantem a segurança do sistema elétrico terão que ser mantidas.

Portanto, os valores dos encargos de Serviços de Sistemas (ESS) tendem a permanecer altos ao longo do ano.

Ações do ONS

Com o fim do período úmido e as perspectivas ruins do cenário meteorológico, as incertezas sobre a operação do sistema continuam. Além da preocupação com os níveis dos reservatórios existem ainda os desafios com possíveis restrições de geração de grandes usinas hidrelétricas (Xingó, Jupiá, Porto Primavera e Ilha Solteira),.

Segundo o diretor o diretor geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico, Luiz Carlos Ciocchi, em entrevista para a Megawhat, o Operador Nacional do Sistema (ONS) tem enfrentado esses desafios com muita atenção, mas que não há risco de desabastecimento.

“Estamos em uma situação delicada, mesmo tendo desde outubro do uso das termelétricas, mas tivemos um período úmido frustrante.”

A perspectiva é chegar ao final do período seco, em novembro deste ano, com níveis de reservatórios melhores que o ano passado.

Ações previstas pelo ONS:

  • Manter o despacho das térmicas de forma mais intensas;
  • Usinas biomassas que poderiam estar disponíveis par a despacho;
  • Revendo limites de transmissão e restrições do sistema elétrico
  • Importação de energia da Argentina e Uruguai

Outra expectativa positiva recai sobre a fonte eólica que vem apresentando boa safra de ventos e à solar que também vem apresentando recordes de geração.

Ciocchi lembra que o ONS olha com um futuro de cinco anos. Nesse meio do caminho, em 2022, ele aponta que é possível, e que já há empresas indicando que as afluências possam voltar em volume para o replecionamento dos reservatórios, o que não foi possível nesse ano.

Mas, ao mesmo tempo há obras de geração e transmissão em andamento que trazem mais tranquilidade ao ONS.

Questionado sobre as discussões das mudanças dos parâmetros na formação de preço do PLD, o diretor foi categórico

“É importante a atualização dos modelos computacionais para representar melhor a dinâmica do setor elétrico e que a ONS busca a operação com o melhor custo possível para todos os agentes.”

Temos que lembrar que não existe energia mais cara do que aquela que você não tem.